domingo, 5 de fevereiro de 2012
A CONSTRUÇÃO DO GRUPO - Madalena Freire
Um grupo se constrói através da constância da presença de seus elementos, na constância da
rotina e de suas atividades.
Um grupo se constrói na organização sistematizada de encaminhamentos, intervenções por parte
do educador, para sistematização do conteúdo em estudo.
Um grupo se constrói no espaço heterogêneo das diferenças entre cada participante: da timidez
de um, do afobamento do outro; da serenidade de um, da explosão do outro; do pânico velado de um, da
sensatez do outro; da seriedade desconfiada de um, da ousadia do risco do outro; da mudez de um, da
tagarelice de outro; do riso fechado de um, gargalhada debochada do outro; dos olhos miúdos de um,
dos olhos esbugalhados do outro; de lividez do rosto de um, do encarnado do rosto do outro.
Um grupo se constrói enfrentando o medo que o diferente, o novo provoca, educando o risco de
ousar.
Um grupo se constrói não na água estagnada do abafamento das explosões, dos conflitos, no
medo em causar rupturas.
Um grupo se constrói, construindo o vinculo com a autoridade e entre iguais.
Um grupo se constrói na cumplicidade do riso, da raiva, do choro, do medo, do ódio, da felicidade
e do prazer.
A vida de um grupo tem vários sabores... No processo de construção de um grupo, o educador
conta com vários instrumentos que favorecem a interação entre seus elementos e a construção do
círculo com ele.
A comida é um deles.
É comendo junto que os afetos são simbolizados, expressos, representados, socializados.
Pois comer junto, também é uma forma de conhecer o outro e a si próprio.
A comida é uma atividade altamente socializadora num grupo, porque permite a vivencia de um
ritual de ofertas. Exercício de generosidade. Espaço onde cada um recebe e oferece ao outro seu gosto,
seu cheiro, sua textura, seu sabor.
Momento de cuidados, atenção.
O embelezamento da travessa em que vai o pão, a „forma de coração‟ do bolo, a renda bordada
no prato... Frio ou quente?
Que perfume falará de minhas emoções? Doce ou salgado?
Todos esses aspectos compõem o ritual do comer junto, que é um dos ingredientes facilitadores
da construção do grupo.
Um grupo se constrói com ação exigente, rigorosa do educador. Jamais com a cumplicidade
autocomplacente, com o descompromisso do educando.
Um grupo se constrói no trabalho árduo de reflexão de cada participante e do educador.
No exercício disciplinado de instrumentos metodológicos, educa-se o prazer de se estar vivendo,
conhecendo, sonhando, brigando, gostando, comendo, bebendo, imaginando, criando; e aprendendo
juntos, num grupo.
FREIRE, Madalena, CAMARGO, Fátima et all. Grupo – indivíduo, saber e parceria: malhas do
conhecimento. São Paulo: Espaço Pedagógico, Série Seminários, 1998, p.23-24.
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